domingo, 7 de dezembro de 2008

A negraria No Cinema Brasileiro.

Os estudos sobre o negro são muito poucos e muitos filmes antigos estão desaparecidos. Segundo João Carlos Rodrigues, os filmes brasileiros desde seus primórdios retratam o negro com diversos arquétipos : pretos velhos, mártir, negro de alma branca, nobre selvagem, negro revoltado, negão, malandro, crioulo doido, favelado, mãe preta, mulata boa e musa.
“ Esses arquétipos, de um modo ou de outro, acabam influenciando a arte e os artistas.(...) Pertence a um extrato mais recente que os tipos de origem africana, muitos deles oriundos do tempo da escravidão, outros ainda hoje em formação no nosso inconsciente coletivo. Em muitos casos, o arquétipo atual pode ser uma fusão de tipo de diferentes origens.”
As histórias contadas pelas velhas mucamas como conta Gilberto Freire e José Lins do Rego, fazem parte da nossa tradição cultural e, segundo João Carlos, os diversos arquétipos são mesclas de substratos culturais.Entretanto, o negro no Brasil foi retratado desde os primeiros filmes até o cinema novo com estereótipos pejorativos que envergonhava e menosprezava o individuo por ter nascido negro.
Por exemplo, em 1912 foi filmado uma “apologia romanceada do líder da revolta da Chibata, A vida de João Candido,” sendo que o filme foi proibido pelo chefe de política e a cópia confiscada . “Trata-se possivelmente do primeiro caso de censura política no cinema nacional”
Apesar da repressão os negros resistiram, no inicio do século XX os negros mais politizados se organizaram e na década de 20 procuraram forma outras forma de associação como a Companhia Negra de Revista e as escolas de samba.
É importante salienta que desde 1901 o negro esta presente nos filmes brasileiro, Dança Baiana (1901) , mas sempre como personagens tidos inferiores.
“ Esta situação complexa do negro brasileiro até o final do século passado não reflete por completo nos filmes que tratam do assunto. É raríssima a aparição de um liberto ou ingênuo nos filmes ambientados no tempo da escravidão: todos são escravos ou quilombolas. Isso vem confirmar certa tendência de nossos cineastas de preferirem tipos e personagens de exceção a representação da maioria. ”
Nas chanchadas os personagens, não só os negros, eram estereotipados, mas os musicais permitiam uma maior abertura para os negros, exemplo: a chanchadesca O rei do Samba (1952), que o sambista Geraldo Pereira aparece cantado o samba Escurinho.
Destaque, na época que antecede o lançamento de Rio40º, para o ator Grande Otelo que fez dezenas de filmes, tantos musicais, comedias, chanchadas e drama, antes de fazer cinema novo (Rio Zona Norte-1956).
Resistir foi o que o povo negro fez, entretanto, esta resistência não se manifesta de forma consciente e direta. Podemos dizer que foi em 1954 que o negro é eleito por Nelson Pereira dos Santos para representar o povo brasileiro, com muito sofrimento, mas sem criar personagens que insultavam os negros. Segundo Diegues; “O cinema novo inaugurou uma imagem do Brasil que nunca havia sido registrado(...)o registro de imagens que estavam ali era o da fundação do Brasil enquanto imagem” , hoje sabemos que não houve sucesso de público e que o povo não estava acostumado a se ver na tela. Segundo Glauber Rocha, o brasileiro passa fome e tem vergonha de falar que passa fome. O negro nunca havia sido reconhecido como protagonista na história brasileira antes do cinema novo. A cultura negra é reconhecida pela primeira vez como uma influência que produz uma riqueza inesgotável na cultura brasileira.
A religião, a música, a dança, a culinária e etc., a cultura negra é eleita pelo cinema novo para falar do Brasil, não somente de uma forma de denúncia social de discriminação e exploração dos negros, mas para criar uma nova estética que falasse do Brasil, como disse Glauber: “sou a favor do público, não paternalista, ou seja, pensando que uma mensagem mastigada vai mudar a consciência e acabar com a alienação” .
A busca desta nova estética lançada pelo cinema novo – estética da fome - retratou a miséria da maioria dos negros, mas também fez filmes épicos da história da resistência negra no Brasil : GAMGA ZUMBA e QUILOMBO - Cacá Diegues.

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